Lucas 4:17-19
Estudos

“Então lhe deram o livro do profeta Isaías. E, abrindo o livro, achou o lugar onde está escrito: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e proclamar o ano aceitável do Senhor” (Lc 4:17- 19, NAA).

 INTRODUÇÃO

O evangelista Lucas coloca essa visita de Jesus no início do Seu ministério, enquanto os demais evangelhos sinóticos3 citam-na em um período posterior e não narram o discurso de Jesus. O Mestre lê o texto de Isaías 60:1,2 e o aplica a Si mesmo quando encerra a leitura e diz: “Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabam de ouvir” (Lc 4:21b). Ao atribuir a Si a unção – porque Ele me ungiu – estava Se revelando como o Messias que as Escrituras prometiam.4 Quando Pedro diz: “O senhor é o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16:16b) ele, na verdade, estava dizendo: Tu és o Ungido, o Messias. Cristo na língua grega significa “Ungido” e no Hebraico, Messias. Aquele que era esperado pôr Israel estava diante dos judeus na sinagoga de Nazaré.5

 E o Messias fora ungido pelo Espírito Santo para levar as boas novas da salvação aos pobres, proclamar a liberdade aos cativos, restaurar a vista aos cegos, pôr em liberdade os oprimidos e proclamar o ano aceitável do Senhor.

Os “pobres”, então, simbolizavam não apenas Israel em seu sofrimento (6:20) mas todos aqueles que não têm meios e os rejeitados em geral (11:41; 12:33; 14:13). A palavra “cegos”, do mesmo modo, pode ser usada de maneira simbólica para referir-se aos sem salvação (1:78,79; 2:29-32; 14:13), mas também se refere aos fisicamente debilitados (18:35-43, At. 9:18,19). A “liberdade” pode também denotar a libertação em relação ao poder de Satanás (13:10-17; At. 10:38) ou a libertação literal em relação a dívidas (11:4).6

 O ano aceitável do Senhor lembra o ano do Jubileu, quando as propriedades rurais ou urbanas que haviam sido vendidas voltariam para os seus donos originais (ou suas famílias). Também o israelita que havia sido vendido para algum compatriota sairia livre no ano do Jubileu e os que estavam em mãos de estrangeiros deveriam ser resgatados por algum parente. Em suma, o Messias que estava ali seria o resgatador dos Seus irmãos e seria uma luz para o povo judeu. No entanto, a Bíblia fala claramente, que Jesus veio para toda humanidade (Lc 2:32,33, Is 49:6 e At 13:47), Ele seria “luz para os gentios”.

O QUE SÃO MISSÕES? Missões, no plural, são todas as atividades exercidas por pessoas enviadas pela Igreja (missionários), como por exemplo: tradução da Bíblia para a língua de um povo que não a tem, um missionário que trabalha com crianças de rua numa grande cidade, alguém que leva o Evangelho para um povo não alcançado. Antes de Jesus ser elevado aos céus disse aos discípulos: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra” (At 1:8). Deus falou a Abraão: “e em ti serão benditas todas as  famílias da terra” (Gn 12:3b). Jesus comissionou a Sua Igreja a ir por toda a terra, cumprindo a Palavra de Deus sobre a bênção dada a Abraão. Deus tem uma missão: resgatar todos os homens. Seu alvo é toda a terra.

 O NOSSO DEUS É MISSIONÁRIO

Quando lemos no livro de Gênesis a história da Queda do Homem, vemos na sequência ao castigo, Deus providenciar o resgate ao ser humano, que caiu nas garras de Satanás: “E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3:15). Foi a primeira referência ao Messias.

 Em seguida, vemos que a maldade do homem torna-se insuportável para Deus e Ele resolve destruí-lo. A Bíblia diz que “Noé era homem justo e perfeito em suas gerações; Noé andava com Deus” (Gn 6:9) e sua família seria poupada. Por isso, Deus mandou que ele construísse um grande barco (a arca) e nele fossem colocados um casal de cada animal e a família de Noé. E Deus fez vir o dilúvio sobre a terra. Dessa forma, Deus preservou a espécie humana e os animais.

 Porém, os descendentes de Noé continuaram pecando. Posteriormente, em Babel, Deus confundiu as línguas, de modo que tiveram que se espalhar pela terra (Gn 11: 1-9).

 Mais tarde, Deus chama um homem para, a partir dele, abençoar todas as famílias da terra: “Ora, o SENHOR disse a Abrão: ‘‘Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra.’ Assim partiu Abrão como o Senhor lhe tinha dito, e foi Ló com ele; e era Abrão da idade de setenta e cinco anos quando saiu de Harã. E tomou Abrão a Sarai, sua mulher, e a Ló, filho de seu irmão, e todos os bens que haviam adquirido, e as almas que lhe acresceram em Harã; e saíram para irem à terra de Canaã; e chegaram à terra de Canaã” (Gn 12:1-5, grifo nosso).

É a primeira vez que Deus fala explicitamente de uma bênção para toda a humanidade. Lembrem-se: Deus não estava prometendo isso apenas para os descendentes de Abraão, mas também para que todas as famílias da terra  fossem benditas. Daqui por diante, veremos o Deus de Abraão atuando para cumprir essa promessa por meio do povo escolhido.

 Moisés, pouco antes da sua morte, afirma: “Na verdade, amas os povos; todos os seus santos estão na sua mão; postos serão no meio, entre os teus pés, e cada um receberá das tuas palavras” (Dt 33:3, grifo nosso). O Deus de Abraão não era exclusivo dos israelitas. Eles foram resgatados da escravidão no Egito a fim de serem luz para as nações. Os povos na região ouviram falar do Deus de Israel.

Raabe, a prostituta de Jericó, falou para os espias enviados por Josué: “Porque temos ouvido que o Senhor secou as águas do Mar Vermelho diante de vós, quando saíeis do Egito, e o que fizestes aos dois reis dos amorreus, a Siom e a Ogue, que estavam além do Jordão, os quais destruístes. O que ouvindo, desfaleceu o nosso coração, e em ninguém mais há ânimo algum, por causa da vossa presença; porque o Senhor vosso Deus é Deus em cima nos céus e em baixo na terra” (Js 2:10,11, grifo nosso). 

Rute, a moabita, não queria largar Noemi, porque ela cultuava o Deus dos Céus. “Disse, porém, Rute: ‘Não me instes para que te abandone, e deixe de seguir-te; porque aonde quer que tu fores, irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus’” (Rt 1:16, grifo nosso). Raabe e Rute são dois exemplos de pessoas que foram atraídas pelo Deus de Israel. 

 Temos outros exemplos de Deus dando testemunho de Si mesmo aos povos. O profeta Jonas foi enviado a pregar aos ninivitas (assírios), um povo cruel, temido por todos. Temos ainda o testemunho de Daniel e seus amigos na corte do rei Nabucodonosor, rei da Babilônia. Alguns salmos falam sobre isso, especialmente, neste versículo: “Anunciai entre as nações a sua glória; entre todos os povos as suas maravilhas” (Sl 96:3). Paulo, na epístola aos Romanos 1:20, diz que Deus Se manifestou aos homens pelas coisas criadas para que todos fiquem inescusáveis diante d’Ele. Vemos então, que o nosso Deus é missionário e “... deseja que todos sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1 Tm 2:4).

 OS FUNDAMENTOS PARA MISSÕES SÃO:7

1) Conversão: Deus quer que as pessoas se convertam e deixem sua vida de pecados para se tornarem Seus filhos: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome; Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1:12,13).

2) 2. Escatológico: levar as pessoas ao céu, para que o Cordeiro seja glorificado: “E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue nos compraste para Deus de toda a tribo, e língua, e povo, e nação; E para o nosso Deus nos fizeste reis e sacerdotes; e reinaremos sobre a terra. E olhei, e ouvi a voz de muitos anjos ao redor do trono, e dos animais, e dos anciãos; e era o número deles milhões de milhões, e milhares de milhares, Que com grande voz diziam: Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de graças. E ouvi a toda a criatura que está no céu, e na terra, e debaixo da terra, e que estão no mar, e a todas as coisas que neles há, dizer: Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre” (Ap 5: 8-13) 

 3) Implantação de Igrejas: “E os que foram dispersos pela perseguição que sucedeu por causa de Estêvão caminharam até à Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra, senão somente aos judeus. E havia entre eles alguns homens chíprios e cirenenses, os quais entrando em Antioquia falaram aos gregos, anunciando o Senhor Jesus. E a mão do Senhor era com eles; e grande número creu e se converteu ao Senhor. [...] E sucedeu que todo um ano se reuniram naquela igreja, e ensinaram muita gente; e em Antioquia foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos” (At 11:19-21, 26, grifo nosso).

4) Filantrópico: a Igreja é desafiada a buscar a justiça no mundo: “Vocês são o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada no alto de um monte” (Mt 5:13,14). 

Podemos ainda lembrar as ordens dadas por Jesus para os Seus discípulos: 

 • E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: “É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém” (Mt 28:18-20).

 • E disse-lhes: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado” (Mc 16:15,16)

• Então abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras. E disse-lhes: “Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressuscitasse dentre os mortos, E em seu nome se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém. E destas coisas sois vós testemunhas” (Lc 24:45- 48). 

• “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra” (At 1:8). 

Todos esses textos bíblicos citados mostram claramente que a Igreja foi comissionada por Jesus para ir a todas as nações e povos de todas as línguas para pregar o Evangelho. Isto é, a Boa Nova de Deus reconciliando todos os homens com Ele mesmo através de Jesus Cristo, o Seu Filho. 

QUAL A RESPONSABILIDADE DA IGREJA?

É muito óbvio que todas as ordens dadas pelo Mestre sobre ir não eram somente aos apóstolos, mas à Igreja toda, de todos os séculos. Quando Lucas cita a fala de Jesus ordenando que se “pregasse o arrependimento e a remissão de pecados em todas as nações” (Lc 24:47) e depois em Atos “em toda a Judeia, Samaria e até os confins da Terra” (At 1:8), está falando de todos os povos. 

 No grego, a língua em que foi escrito o Novo Testamento, a palavra nações significa: multidão, família humana, tribo, nação.8 Segundo o site Joshua Project9, há no mundo 17.406 grupos e 7.401 dentre esses não alcançados. Em números absolutos, dos 7,84 bilhões de pessoas no mundo, 3,27 bilhões de pessoas nunca ouviram o Evangelho. Compete à Igreja essa missão, que ainda não foi concluída.

O que esses números nos dizem, Igreja? Paulo respondeu a essa questão em Romanos 10: 8-17. 

Paulo estabelece quais são os deveres da Igreja: enviar os missionários e sustentá-los, e também evangelizar e dar um bom testemunho onde estivermos. 

 Como nós cumpriremos essa missão? Jesus responde: “[...]Grande é, em verdade, a seara, mas os obreiros são poucos; rogai, pois, ao Senhor da seara que envie obreiros para a sua seara” (Lc 10:2). Por isso, devemos pedir ao Senhor que envie mais trabalhadores à sua obra. Podemos, também, ser resposta às nossas próprias orações: “Eis-me aqui, envia-me a mim”. (Is 6:8 b.).

 E o Senhor Jesus ainda nos diz da URGÊNCIA DA MISSÃO: “Não dizeis vós que ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Eis que eu vos digo: Levantai os vossos olhos, e vede as terras, que já estão brancas para a ceifa” (Jo 4: 35, grifo nosso). Enquanto não tomarmos atitudes, muitos deixarão de ouvir o Evangelho da Graça. A Igreja tem de Deus a garantia de que as portas do inferno não são mais fortes do que a Sua Palavra. Lembremo-nos de que Jesus tem todo o poder, e Ele estará conosco até o fim!

 CONCLUSÃO

O objetivo principal desse estudo bíblico é demonstrar que a Igreja tem o papel primordial na evangelização dos não alcançados. A Igreja, principalmente, a local, deve perceber que tem um papel muito importante na obra missionária.10 Ela não está restrita aos líderes e pastores, mas sim a toda a congregação. A igreja local deve descobrir os vocacionados, prover capacitação teológica e missiológica, enviar o missionário, orar por ele, providenciar o sustento e recebêlo novamente quando findar o seu trabalho. Essas etapas acontecerão se a Igreja estiver em constante e abundante oração pelos povos não alcançados. Ousamos dizer que somente acontecerá se o pastor ou líder dessa Igreja tiver um coração obediente a Deus, um amor enorme por pessoas e povos não alcançados. Em todas as expressões de Jesus a respeito de evangelizar, vemos os verbos no imperativo: ide, anunciai, fazei discípulos. São ordens que devem ser obedecidas. Portanto, ter um coração ardendo por missões é basicamente ser obediente ao Senhor Jesus Cristo.